RUTH MANUS
06 Maio 2015 | 10:12
Mãe,
pára um pouco. Dois minutinhos só. Sei que a ideia de parar não existe
para você, mas eu tô pedindo. Baixa a frequência, senta no sofá, alguém
cuida de todo o resto, vai por mim.
Eu
sei que não importa quantos anos passem, você tem a eterna sensação de
que é responsável por tudo. Pela sua vida, pela minha, pela dos que nos
cercam, pelo seu trabalho, pelo meu trabalho, por tudo- inclusive o que
está absolutamente fora do seu alcance.
Sei que não adianta eu te dizer que sou adulto, sei que você nunca vai aceitar a ideia de que já não está mais no comando.
Pois
é, mãe. Mas o fato é que me flagrei adulto. Não só por causa do
trabalho, das responsabilidades e cobranças. Me percebi adulto num certo
dia perdido no passado. Dia em que engoli o choro para que você não
visse. O dia em que disse em que estava tudo bem quando o peito estava
cheio de fantasmas. O dia em que esperei você virar as costas para poder
desmoronar.
Por
quê? Porque eu sabia que, de um jeito ou de outro, as coisas se
ajeitariam. E não ia ser através das suas mãos. Então, por que te
preocupar? Por que te angustiar mais do que você já se angustia por
conta própria?
Mãe,
eu parei de depender da sua barriga, parei de depender do seu peito,
parei de depender das mamadeiras quentinhas, parei de depender da ajuda
no banho, parei de depender da sua carona.
Mas você nunca parou de se preocupar. Talvez se preocupe ainda mais agora, porque sabe que o voo é cada vez mais alto.
Você
se lembra das centenas de vezes em que eu gritei “EU QUERO A MINHA
MÃE!” quando era criança? Na verdade eu não queria. Eu precisava.
Precisava do seu colo, do seu beijo na testa, do seu cafuné, do seu
cheiro. Precisava, porque sem você não havia chão.
...
...
O
famoso “eu quero a minha mãe!” é agora. Agora eu quero você. Mas quero
você tranquila, ouvindo minhas histórias, mexendo no meu cabelo, rindo
comigo, opinando, discordando. Não de peito apertado. Não suspirando
pelos cantos achando que eu não vou encontrar o caminho certo. Eu vou.
Você me deu o melhor mapa.
Aceite
meu presente desse ano: uma relação de amor e de parceria, não mais de
dependência, nem prática, nem emocional. Tanto minha quanto sua.
Meu
presente, na verdade, é quase um pedido. Essa noite, mãe, deite a
cabeça no travesseiro sabendo que está tudo bem. Que mesmo quando minha
vida estiver dura, você não precisa ficar com os olhos arregalados,
olhando para o teto buscando saída. Isso é comigo.
Olhe
por mim, peça por mim, orgulhe-se de mim. Deixe-me ser de novo a luz
dos seus olhos, como fui quando era um bebê sorridente. Não me iludo,
achando que você vai parar de se preocupar. Sei que é impossível. Mas
deixe-me hoje ser eu quem te abraça e te diz baixinho: está tudo certo.
♥
Com um beijo de feliz dia das mães às mães de sangue, mães de coração,
mães que estão do outro lado das nuvens (mas sempre por perto), pais que
também são mães e às tantas madrastas que são o avesso dos contos de
fadas, que cuidam e amam pessoinhas que decidiram abraçar como suas.
APLB Sindicato - Eunápolis.
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