Autoridades políticas e acadêmicas se reuniram ontem na sede nacional do PCdoB para um evento organizado pela Fundação Maurício Grabois, o Seminário “Crise Mundial do Capitalismo e Desafios do Desenvolvimento Brasileiro”. Entre os debatedores, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, o consultor financeiro Agenor Silva Junior, o economista Lecio Morais e o professor Eduardo Fagnani discutiram o caminho para a retomada do crescimento econômico nacional. Entre os presentes, esteve o presidente nacional da CTB, Adilson Araújo.
A abertura dos trabalhos foi feita pela deputada federal e presidenta do PCdoB, Luciana Santos. Em sua fala, ela reiterou a importância da construção de uma sociedade mais plural, que melhor utilize os potenciais diferenciados das mulheres, do movimento sindical e dos movimentos sociais. “Sem a participação da diversidade e de quem pensa o Brasil de uma forma diferente, que enxerga os desafios do caminho a percorrer, é impossível construir um projeto nacional do desenvolvimento. Nosso objetivo é captar isso e propor para a sociedade”, explicou. Em seguida, falou sobre a necessidade de abandonar o programa de austeridade imposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy: “Economistas progressistas e conservadores concordam que os remédios empenhados por Levy estão esgotados. Será preciso retomar as medidas contracíclicas que vinham sendo aplicadas até 2014”.
Para a presidenta, a prioridade deve ser a proteção da renda e do emprego de todos os brasileiros, e o foco deve ser a retomada do desenvolvimento. “É necessário cobrar a conta do andar de cima, fazendo as reformas estruturais necessárias, entre elas a tributária. Deve-se investir em inovação e tornar a indústria como carro-chefe da economia, avançando no programa de exportações brasileiras e renovar o fôlego das PPPs, como no caso do Programa de Investimento em Logística”, concluiu.
Aloisio Sérgio Barroso, diretor de Estudos e Pesquisas da Fundação Maurício Grabois, fez uma análise das tendências econômicas dos últimos 30 anos, em que o neoliberalismo tornou-se a doutrina determinante no mundo. A interpretação de Barroso é que o período presenciou um agravamento da desigualdade social, especialmente depois da crise de 2008, e que deve haver preocupação com um possível agravamento da instabilidade do capital. “Mesmo os presidentes dos maiores organismos do capitalismo internacional, como a Christine Lagarde [do FMI] ou o Mario Draghi [do Banco Central Europeu], admitem que a prioridade agora é impedir uma nova recessão no ano que vem”, lembrou.
O caminho para o Brasil
O professor Belluzzo ficou com a fala mais incisiva acerca da crise que abate o país. Ele enxerga uma interação destrutiva entre dois grande problemas nacionais: a desindustrialização que as políticas econômicas dos últimos 20 anos promoveram e a crise política que sacode Brasília. “O Brasil, a partir do momento em que o neoliberalismo tornou-se regra, detonou a indústria nacional. Contraditoriamente, foi a estabilização da economia e a abertura das fronteiras para a competição industrial internacional que criou as condições para a perda de competitividade desse setor, e o Brasil acabou se oferecendo como mercado consumidor para a indústria chinesa em troca de uma priorização no consumo de commodities e energia. Quando a crise chegou, isso acabou”, explicou.
Entre gráficos e estatísticas, Belluzzo demonstrou que a tendência não é exclusiva ao Brasil - mesmo em países desenvolvidos, como a Inglaterra, a precarização dos postos de trabalho já corresponde a mais de 50% dos trabalhadores, que passaram a depender de sub-empregos e jornadas terceirizadas para se sustentarem. “É o desenvolvimento tecnológico está dando origem a isso. Nós precisamos entender que tecnologia, a descentralização produtiva e o ataque aos postos de trabalho estão fundamentalmente ligados. Há menor necessidade do trabalho e a competição é feroz”, disse. Ele enxerga uma tendência preocupante de substituição da renda pelo endividamento para a maior parte da população, e vaticina: “A economia capitalista chegou a um impasse, pois vai deixar um parte da população sem vínculo com o trabalho, e com isso sem acesso ao consumo. De um lado, você tem o desenvolvimento tecnológico e a concentração do capital, e do outro você tem as relações de trabalho e os problemas da sobrevivência da população. O que está acabando é a própria relação capitalista do trabalho”.
Mas qual seria o caminho para escapar desse cenário? O professor acredita que, em primeiro lugar, será preciso estancar a crise política que o Congresso promove, pois esta paraliza o Brasil. “Não conseguimos reagir à crise econômica por conta da crise política. O Banco dos BRICS está aí, operacional, assim como outras instituições, mas o Brasil tem que dizer a que veio, precisa traçar uma estratégia de longo prazo de reestruturação econômica que não fique amarrada nas noções do conservadorismo. Essas pessoas que defendem o pensamento neoliberal, que querem desarticular o Mercosul, pensam no mundo como se ainda estivéssemos em 1980, mas o mundo está em 2015. Precisamos pensar em políticas que levem em conta o peso que as relações econômicas com a América do Sul têm para o Brasil e o peso da China nas cadeias produtivas internacionais”, concluiu.
Por Renato Bazan -
Fonte: Portal CTB
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